sábado, 24 de outubro de 2015

Terráqueos

Eu já tinha lido sobre o filme e até comentado com uma amiga minha, também vegetariana, sobre ele. Eu estava ao mesmo tempo curiosa e cheia de expectativas sobre esse documentário.

As expectativas costumam ser traiçoeiras: quanto mais expectativas alimentamos a respeito de alguma coisa, tanto menos elas se concretizam.

Mas não nesse caso. O documentário superou (e muito!) as minhas expectativas.

Explico:

Em primeiro lugar, a construção do argumento: ao longo de todo o filme animais e seres humanos são colocados no mesmo patamar de habitantes desse planeta, tendo, portando, os mesmos direitos à existência e ao respeito.

Em segundo lugar, por sua ampla abordagem: se engana quem pensa que o filme aborda apenas o consumo da carne. Ele está dividido em cinco partes e (sim!), fala até dos seus fofinhos animais de estimação. Começa pelos animais de estimação, segue pelo consumo de carne, avança sobre o uso dos animais para a fabricação de roupas, aborda a questão dos animais para divertimentos e encerra com o uso de animais para supostos testes e experimentos científicos.

Em todas essas situações, o homem não apenas utiliza os produtos de origem animal para os seus próprios fins como, cruelmente, dispõe dos animais para o seu bel prazer.

Podemos observar que os animais não apenas morrem em situações degradantes e torturantes: eles vivem (se é que podemos chamar isso de vida) em situações calamitosas: engaiolados, sobrepostos, em locais sem condições de higiene, as fêmeas permanentemente prenhas, todos tomando hormônios para engordarem, se fortificarem, se reproduzirem... todos presos, amedrontados, violentados e mal tratados. Todos absolutamente subjugados aos caprichos humanos. Todos mortos de formas doloridas, muitas vezes morosas e sempre absolutamente cruéis (veja no filme o mito da carne Kosher).

Mas, independente de tudo isso, onde o documentário mais acerta, a meu ver, é nas imagens: durante todo o período (96min) todos os argumentos são ilustrados com imagens, do mundo todo: dos animais de estimação, os oceanos, o abate, a eutanásia, as aves, as touradas. Não são poupados nem os carismáticos golfinhos. Para quem engrossa o time do “ver pra crer” ou “uma imagem vale mais do que mil palavras”, pois bem: o documentário está repleto delas, todas absolutamente chocantes.

Pensei nos trabalhadores dos abatedouros, mundo afora. Eu jamais conseguiria trabalhar nisso, porque não agüento o cheiro da carne dos açougues e nem a visão das bandejinhas de carne dos supermercados.

Pensei nos humanos que precisam lidar com todo esse horror e que, muitas vezes, como aparece no filme, parecem estar absolutamente à vontade nesse papel.

Daí, duas frases do filme:

“Se tivéssemos que produzir a nossa própria carne, seríamos todos vegetarianos”.

E, decorrente da famosa frase do Paul McCartney “Se os matadouros tivessem paredes de vidro, todos seriam vegetarianos”:

“A arquitetura dos abatedouros é opaca, projetada para fins de negação”.

Comentei com uma amiga sobre o documentário, dizendo assim “é impossível assistir esse filme e continuar comendo carne” e ela “por isso que eu não assisto”.

Quem não quiser, não precisa assistir. São realmente poucos os quê suportam as verdades.
 
 

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