As expectativas costumam ser
traiçoeiras: quanto mais expectativas alimentamos a respeito de alguma coisa,
tanto menos elas se concretizam.
Mas não nesse caso. O
documentário superou (e muito!) as minhas expectativas.
Explico:
Em primeiro lugar, a construção
do argumento: ao longo de todo o filme animais e seres humanos são colocados no
mesmo patamar de habitantes desse planeta, tendo, portando, os mesmos direitos
à existência e ao respeito.
Em segundo lugar, por sua ampla
abordagem: se engana quem pensa que o filme aborda apenas o consumo da carne.
Ele está dividido em cinco partes e (sim!), fala até dos seus fofinhos animais
de estimação. Começa pelos animais de estimação, segue pelo consumo de carne,
avança sobre o uso dos animais para a fabricação de roupas, aborda a questão
dos animais para divertimentos e encerra com o uso de animais para supostos
testes e experimentos científicos.
Em todas essas situações, o homem
não apenas utiliza os produtos de origem animal para os seus próprios fins
como, cruelmente, dispõe dos animais para o seu bel prazer.
Podemos observar que os animais
não apenas morrem em situações degradantes e torturantes: eles vivem (se é que
podemos chamar isso de vida) em situações calamitosas: engaiolados,
sobrepostos, em locais sem condições de higiene, as fêmeas permanentemente
prenhas, todos tomando hormônios para engordarem, se fortificarem, se
reproduzirem... todos presos, amedrontados, violentados e mal tratados. Todos
absolutamente subjugados aos caprichos humanos. Todos mortos de formas
doloridas, muitas vezes morosas e sempre absolutamente cruéis (veja no
filme o mito da carne Kosher).
Mas, independente de tudo isso,
onde o documentário mais acerta, a meu ver, é nas imagens: durante todo o
período (96min) todos os argumentos são ilustrados com imagens, do mundo todo:
dos animais de estimação, os oceanos, o abate, a eutanásia, as aves, as
touradas. Não são poupados nem os carismáticos golfinhos. Para quem engrossa o
time do “ver pra crer” ou “uma imagem vale mais do que mil palavras”, pois bem:
o documentário está repleto delas, todas absolutamente chocantes.
Pensei nos trabalhadores dos
abatedouros, mundo afora. Eu jamais conseguiria trabalhar nisso, porque não
agüento o cheiro da carne dos açougues e nem a visão das bandejinhas de carne
dos supermercados.
Pensei nos humanos que precisam
lidar com todo esse horror e que, muitas vezes, como aparece no filme, parecem
estar absolutamente à vontade nesse papel.
Daí, duas frases do filme:
“Se tivéssemos que produzir a nossa própria carne, seríamos todos
vegetarianos”.
E, decorrente da famosa frase do Paul McCartney “Se os matadouros tivessem paredes de
vidro, todos seriam vegetarianos”:
“A arquitetura dos abatedouros é opaca, projetada para fins de negação”.
Comentei com uma amiga sobre o
documentário, dizendo assim “é impossível assistir esse filme e continuar
comendo carne” e ela “por isso que eu não assisto”.
Quem não quiser, não precisa
assistir. São realmente poucos os quê suportam as verdades.
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