Há
muitos motivos pelos quais um indivíduo se torna vegetariano e há muitos
motivos pelos quais os não-vegetarianos criticam essa opção (por falta de
informação, preconceito, por acharem “frescura”, por ignorarem os sofrimentos
dos animais, etc.).
Podemos
e devemos, todos, respeitar as opiniões alheias. Eu, apesar de ser uma
vegetariana ultra-convicta, respeito a opinião e o gosto dos não-vegetarianos, apesar
de ter outro ponto de vista.
Alguns
podem alegar que consumir ou não carne é uma questão estritamente individual.
Sim e não.
Sim
porque o livre-arbítrio entre comer ou não comer carne é de cada individuo,
indelegável. A pessoa pode ser influenciada por N fatores externos, mas a
decisão é individual (como em tudo nessa vida).
Mas
não na medida em que esse consumo não afeta unicamente ao indivíduo, mas toda a
coletividade (e não estamos falando apenas dos animais).
Em
relação aos animais, o tratamento que é dispensado a eles em vida (vida?) e em
especial no seu abate, é conhecido de todos, mesmo dos que se esforçam para
ignorar os fatos.
Mas
em relação aos outros impactos ambientais advindos da produção e do consumo da
carne e outros produtos de origem animal, muito pouco se fala.
Por
isso achei bem interessante essa matéria da Época Online, publicada em
09/06/2006.
Vegetarianismo a
favor do meio ambiente
POR CRISTIANE
SENNA
Algumas pessoas se tornam vegetariana pela libertação animal e outras em
busca da boa saúde, mas há um motivo muito importante que deve ser considerado
por todos: a ação impactante que a pecuária tem sobre o meio ambiente. Em
entrevista a ÉPOCA Online, o biólogo e ativista Sérgio Greif explicou um pouco
mais sobre o assunto.
Impacto ambiental de uma dieta centrada na carne
A pecuária representa uma das atividades humanas mais impactantes para o meio
ambiente, consumindo grandes quantidades de água, grãos, combustíveis fósseis,
pesticidas e drogas. Esta atividade é também a principal causa por trás da
destruição das florestas tropicais e outras áreas naturais, além de grande
responsável por outros impactos ambientais, como a extinção de espécies, erosão
do solo, escassez e contaminação de águas, desertificação, poluição orgânica e
efeito estufa.
Destruição da flora e fauna natural
A maior parte do gado brasileiro é criada pelo sistema extensivo, onde os
animais permanecem soltos no campo, ocupando vastas áreas. Neste sistema,
considerado pouco produtivo, cada cabeça de gado necessita de um hectare (10.000 m²) de terra para engordar.
O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo (mais de 200 milhões de
cabeças), que necessita de uma área de pastagem de, no mínimo, 2 milhões de km²
para ser sustentado. Esta área equivale a um quarto do território nacional.
Estas pastagens eram anteriormente áreas naturais como cerrados, florestas
tropicais, entre outros.
Quando ambientes naturais são destruídos para a formação de pastos ocorre a
perda de biodiversidade na área: a maior parte dos animais e plantas nativos
desaparecem do local, sendo substituídos por forrageiras invasoras e gado. A
remoção da cobertura vegetal original transforma completamente o ambiente,
tornando-o impróprio para sustentar a maior parte das espécies que antes ali
viviam. Ainda, as raras espécies que se adaptam às novas condições tendem a ser
eliminadas pelos fazendeiros, uma vez que entram em competição com o gado ou
passam a predá-lo devido à ausência de suas presas naturais. Há também várias
doenças, como a raiva, o antraz, a toxoplasmose e a febre maculosa, que são
transmitidas do gado para os animais silvestres e vice-versa, o que
freqüentemente resulta na eliminação dos animais silvestres.
A remoção da cobertura vegetal original para formar pastos não apenas
compromete a biodiversidade, como também interrompe o equilíbrio e a reciclagem
natural de nutrientes, como o que estamos observando no caso da Floresta
Amazônica. Locais no planeta onde a atividade de pastoreio é mais antiga são
testemunhas de que o homem de fato transforma florestas em desertos. O
super-pastoreamento destrói toda a possibilidade de rebrotamento e crescimento
vegetal. Além disso, quando o gado pisoteia massivamente o solo, este é compactado.
Isto torna a absorção da água dificultada, além de possibilitar o arraste de
material superficial pelo vento e pela água, resultando em processos erosivos.
Poluição do meio ambiente
A pecuária também é uma das mais importantes fontes de poluição do meio
ambiente. Ela consome grandes quantidades de recursos, gerando resíduos e gases
que contaminam o solo, a água e o ar. A produção de excrementos animais
ultrapassa em muito a produção de excrementos das grandes cidades. Este
excremento na maior parte das vezes não pode ser empregado na agricultura e não
é direcionado para nenhuma estação de tratamento de esgotos, sendo
inadequadamente disposto no ambiente. No meio ambiente, estes excrementos
colocam em risco a saúde pública, estando associados à disseminação de
coliformes fecais, proliferação de insetos e problemas de saúde como alergias,
hepatite, cânceres e outras doenças. Em alguns municípios catarinenses a
suinocultura é responsável por mais de 65% da emissão de poluentes. A
contaminação das águas superficiais por coliformes fecais em algumas regiões do
Sul do Brasil chega a 85% das fontes naturais de abastecimento.
Mesmo em países desenvolvidos, onde a abundância de recursos permite um
manejo mais adequando e melhor infra-estrutura, a insustentabilidade da
pecuária torna impossível o controle efetivo da poluição. Por exemplo, países
europeus como a Holanda, Inglaterra, Dinamarca, Alemanha, Bélgica e França
apresentam problemas ambientais ocasionados pela pecuária muito mais graves do
que os nossos. Os Estados Unidos já possuem áreas com níveis de contaminação
alarmantes.
A pecuária e a água
A pecuária implica também um uso ineficiente da água. Cerca de 70% da água doce
captada pelo homem dos rios, lagos e depósitos subterrâneos é destinada para
uso agrícola, sendo que os 30% restantes são utilizados para as demais
atividades, como consumo doméstico, atividade industrial, geração de energia,
recreação e abastecimento. No Brasil, são necessários em média 2 mil litros de
água para produzir cada quilo de soja. Por outro lado, para produzir cada quilo
de carne bovina são necessários cerca de 43 mil litros de água. Nesse cálculo
entram não só a água que os animais bebem, cerca de 50 litros/dia, mas também a
água utilizada na produção de seu alimento.
O pecuarista não paga pela água que utiliza nem para os dejetos que o
abatedouro gera. No preço da carne não estão contabilizados nestes custos, nem
os prejuízos ao meio ambiente causados pela criação de animais. Todos estes
custos são subsidiados pelo governo. Isto significa que o contribuinte arca com
todos, para lucro exclusivo do setor pecuário.
Vegetarianismo contra a fome no mundo
Se compararmos nossa atual produção agrícola com a população humana hoje
existente, veremos que não há motivos para a fome no mundo. Não há déficit na
produção, pelo contrário, são produzidas cerca de 1,5 quadrilhões de calorias a
mais do que seria necessário para sustentar nossa população. A fome só existe
porque cerca de 25% dos grãos cultivados no mundo são utilizados na alimentação
do gado. Mesmo o fato de que este gado será posteriormente utilizado para
alimentar seres humanos não é justificativa, visto que a produção de carne
representa um uso ineficiente dos grãos. Os grãos são utilizados de forma mais
eficiente quando consumidos diretamente por seres humanos
Vegetarianismo preservando florestas e áreas naturais
Caso o vegetarianismo fosse uma situação generalizada dentro de nossa espécie,
seriam necessárias menos áreas de cultivo para sustentar nossa população.
Muitas áreas naturais jamais precisariam ser tocadas e desta forma haveria uma
maior preservação ambiental. Não haveria a situação de desperdício de recursos
hídricos, pois seriam adotadas para cultivo apenas áreas próprias para
agricultura, sem quase nenhuma necessidade de irrigação. A captação de água
ocorreria basicamente para atender às cidades e às indústrias, portanto haveria
menor incidência de secas.